sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Penélope




À pouco tempo vi num livro um pequeno comentário a Penélope, a sábia e sensata mulher de Ulisses que esperou vinte anos pelo marido, sem nunca permitir que nenhum outro homem se casasse com ela e usurpasse o trono de Ítaca.

Penélope nunca cedeu ao medo, nunca deixou de acreditar que um dia Ulisses voltaria.

Como foi capaz Penélope de lutar pela sobrevivência de um amor incerto e sem garantias durante mais de vinte anos, num tempo em que ausência não tinha outra resposta que não o silêncio e o desconhecimento?

Imagino Penélope sozinha, no reino de Ítaca, rodeada de homens, como abutres, enquanto tecia o seu manto de solidão que nunca terminava e que a protegia da cobiça alheia.

Tal como a mulher do guerreiro, também me quero proteger do mundo, também não quero ninguém. Não quero espalhar a minha tristeza noutros corpos nem usá-los para tentar esquecer-me...Não quero sentir sobre a minha pele uma outra pele estranha, com um cheiro que não conheço; quero fechar-me par o mundo até que o passar dos dias suavize a minha mágoa, embora saiba que nunca conseguirei aceitar o que não posso entender.

Penélope esperou vinte anos. Não esperou nem muito nem pouco, apenas o tempo que tinha de esperar.

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