quinta-feira, 3 de julho de 2008

Fui à fonte...

Hoje fui à fonte...
...vesti o meu melhor vestido...aquele com cheiro a alfazema que guardo tão secretamente entre as cartas que te escrevo em segredo...
...coloquei os brincos que me ofereceste...lembras-te?...São aqueles que no meu sonho, onde estávamos na areia, junto à água do mar, à espera do pôr do sol, tu me pediste para fechar os olhos e pediste para te dar a mão...e tu, delicadamente, colocaste estes brincos da cor do mar a tocar na minha pele fina e clara.
...calcei os sapatos que a minha mãe me deixou...quando partiu...queria que ela fosse comigo...
...penteei o cabelo com as mãos, fiz uma longa trança e prendi-a de lado.
...e fui buscar um cântaro de água para matar a sede aos meus irmãos...sentia que hoje ia ser um dia especial, pelo menos era o que a minha intuição dizia.
Quando ia para lá, encontrei uma moeda estranha no chão. Nunca a tinha visto, apesar de não ver muitas moedas pelas minhas mãos, pensei em guardá-la para ir poder comprar um pequeno pedaço de pão quando voltasse para casa, mas algo me dizia que ela não iria servir para isso.
Continuei o meu caminho...a sentir o cheiro doce das flores do campo e a ouvir os meus amigos passarinhos com quem me encontro à mesma hora, bem cedo.
Quando cheguei à fonte, esta parecia ter um brilho diferente. Um raio de luz confundia os meus olhos, de tão forte ela ser. Parecia mágica, tinha reflexos de todas as cores, fazia sons que eu nunca tinha ouvido, senti a minha pele a arrepiar-se toda e um forte desejo de atirar a estranha moeda para o seu interior. Fiquei assustada...mas isso não me impediu de continuar. Cheguei-me à frente, enchi o meu cântaro com água e depois, virei-me de costas, pedi um desejo com muita força e atirei a moeda para o seu interior. Como a minha curiosidade era muita e estava em sobressalto de todo aquele espectáculo, virei-me de pressa e reparei que a estranha moeda tinha mudado de forma. Já não tinha aquela cor acobreada velha, parecia uma pequena estrela brilhante a cair em câmara lenta para o seu interior. Tudo me parecia irreal! De repente, parece que ela tinha ganho vida de novo, mas de uma forma mais brusca e mais rápida e entrou de forma louca no interior da água da fonte.
É claro que, no meu estado de tanta curiosidade, espreitei para ver para onde ela ia e, para meu espanto, não a consegui ver assim como não apareceu o meu reflexo...mas sim o teu! O meu desejo tinha-se realizado. Nos meus sonhos, o teu rosto era sempre desfocado, por muito que lhe quisesse tocar, parecia que era sempre impedida por algo, mas conseguia imaginar a forma das tuas sobrancelhas, o contorno dos teus lábios e agora estava a ver tudo às claras.
Parecia magia...e era! Quando te toquei através da água, fiquei enfeitiçada. Consegui levar a água aos meus irmãos, mas morri pouco tempo depois, para não poder contar o segredo da fonte. Mas morri feliz, pois se não fosse assim, nunca iria ver o teu rosto belo e perfeito.

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